Eu Sou a Videira Verdadeira: Estudo em João 15, A
Videira e os Ramos
Jesus se apresenta como
a Videira verdadeira no capítulo 15 do Evangelho de João. Essa é uma das
alegorias mais conhecidas da Bíblia, geralmente intitulada “A Videira e os
Ramos”. O significado principal desse ensino aponta para o nosso relacionamento
com Cristo, e a dependência que temos dele. Cristo é a Videira verdadeira, e
nós somos os ramos.
Se Jesus é a Videira
verdadeira, o Pai é o viticultor. Ele é quem cuida dos ramos. Estes ramos são
classificados em dois grupos: os ramos produtivos e os ramos improdutivos. Os
ramos representam todos aqueles que entram com contato com Cristo e seu
Evangelho. Dentre estes, o Agricultor cuida de limpar aqueles que dão frutos a
fim de que possam produzir ainda mais frutos. Por outro lado, Ele também corta
aqueles que não dão frutos. Os ramos improdutivos secam, são juntados e
lançados no fogo.
Por
que Jesus disse “Eu sou a Videira verdadeira”?
Jesus utilizou a figura
de uma videira devido ao seu grande significado simbólico. A nação de Israel no
Antigo Testamento, por diversas vezes era representada por uma videira (Salmos
80:8-16; Jeremias 2:21). Inclusive, no período Macabeu, as moedas traziam uma
videira estampada.
Por
isso os discípulos poderiam facilmente entender o ensinamento de Jesus ao
dizer: “Eu sou a Videira verdadeira”. Também é notável o
contraste estabelecido nessa passagem. Diferentemente de Israel, um tipo de
videira que falhou e foi julgada pela sua falta de fruto, Jesus cumpriu
efetivamente o simbolismo que Israel simplesmente tipificava. Saiba quem é Jesus.
Quando
Jesus contou a alegoria da Videira e os Ramos?
O
contexto dessa passagem é muito importante em sua interpretação. Muito
provavelmente o Senhor Jesus contou essa alegoria na noite em que
instituiu o sacramento da Ceia do Senhor. Nessa mesma noite Ele
foi traído.
Isso significa que
aquela era a última oportunidade de Jesus advertir seus discípulos antes de ser
preso. Então Jesus lhes falou sobre a diferença entre o ramo que dá fruto
e o ramo que não dá fruto. Tal diferença está fundamentada claramente sobre o
conceito de “permanecer nele”. O ramo que dá fruto é aquele que permanece nele,
ao contrário do infrutífero que é cortado, juntado e lançado no fogo.
Qual
é a explicação da alegoria da Videira e os Ramos?
Ao mesmo tempo em que
Jesus disse ser a Videira verdadeira, Ele também estabeleceu um contraste muito
grande entre os ramos produtivos e os ramos improdutivos. Por isso a explicação
da alegoria da Videira e os Ramos passa pela resposta da seguinte pergunta:
Quem são os ramos improdutivos?
Diferentes
interpretações tentam responder essa pergunta. Já dissemos que os ramos em
geral são todas as pessoas que demonstram ter algum relacionamento com Cristo.
Mas quem são exatamente os ramos que recebem a terrível sentença de serem
queimados no fogo? Os estudiosos costumam responder esta pergunta de diferentes
maneiras. Vejamos nas interpretações alternativas abaixo.
1.
Os ramos improdutivos são crentes verdadeiros que perdem a salvação
Há quem entenda que
estes ramos improdutivos são cristãos verdadeiros. Esses cristãos deixaram de
produzir e apostataram sua fé. Consequentemente, eles são cortados
definitivamente, juntados e lançados no fogo.
O problema com essa
interpretação é que a segurança da salvação parece repousar na capacidade dos
ramos em produzir frutos. Além do mais, devemos nos lembrar de que pouco antes
o mesmo Senhor já havia falado sobre a maravilhosa promessa de que suas ovelhas
jamais se perderiam (João 10:11). Será que Ele teria mudado de ideia?
Definitivamente não!
2.
Os ramos improdutivos são crentes verdadeiros que são disciplinados por Deus
Outros defendem que
todos os ramos, produtivos e improdutivos, são cristãos verdadeiros. Mas
diferente da interpretação acima, o fato de serem cortados não implica na perda
da salvação. Esse corte seria um tipo de disciplina que Deus aplica aos ramos
improdutivos.
Para defender essa
interpretação é levado em conta que o verbo grego traduzido como “cortar”,
também pode ser traduzido como “suspender”, no sentido de “levantar”. Assim, ao
invés da palavra “cortar”, a palavra “suspender” seria a tradução mais
apropriada para se referir aos ramos improdutivos. Ao serem levantados, os
ramos improdutivos poderão receber os cuidados necessários para que possam
produzir.
É comum que nas
videiras alguns ramos cresçam por baixo de outros. Eles acabam sendo privados
da luz solar e de nutrientes essenciais para seu desenvolvimento. Como
resultado disso, esses ramos ficam mirrados e improdutivos. Então o viticultor
pode tratá-los, erguendo-os para cima para que eles possam receber a luz e os
nutrientes necessários. Com isso, eles se tornaram ramos produtivos.
É justamente com base
nesse raciocínio que alguns estudiosos que defendem essa interpretação. Eles
alegam que Jesus está se referindo à disciplina que alguns cristãos verdadeiros
são submetidos ao logo de suas vidas. Esses cristãos são levantados de uma
posição rasteira a fim de que possam produzir frutos.
Apesar
de parecer uma boa interpretação, o problema é que ela parece ter dificuldade
em explicar a sentença do versículo 6: “Se alguém não permanecer em
mim, é lançado fora como um ramo, e seca, e esses ramos serão apanhados,
lançados no fogo e queimados”.
3.
Os ramos improdutivos são crentes nominais
Por fim, há quem
defenda que os ramos produtivos e os ramos improdutivos se referem a dois
grupos: os cristãos verdadeiros e os cristãos nominais. Isso significa que os
ramos produtivos representam os genuínos seguidores de Cristo que verdadeiramente
desfrutam de uma ligação intima com Ele. Justamente por isso eles produzem
frutos.
Já os ramos
improdutivos representam os impostores. Essas pessoas apenas professam uma fé
histórica. Eles também seguem a Jesus e dizem estar nele, mas são incapazes de
realmente produzir frutos. Estes ramos ruins e improdutivos são cortados de
entre os ramos produtivos, e finalmente são ajuntados e lançados no fogo.
O
contexto da alegoria da Videira e os Ramos
Dissemos que o contexto
em que Jesus pronunciou essas palavras é muito importantes para sua
interpretação. Naquela mesma noite, um de seus discípulos mais próximos haveria
de traí-lo. Considerando isso, e se deparando com a insistente repetição do
verbo “permanecer” que aparece nesse ensino, a figura de Judas Iscariotes se
torna inesquecível.
Pouco antes de dizer
ser a Videira verdadeira, Jesus também já havia dito que nem todos que o
acompanhavam estavam realmente limpos (João 13). Obviamente essa era uma referência
a Judas Iscariotes:
1. Ele havia estado tão
perto de Jesus e desfrutado de uma relação tão próxima com Ele.
3. Ele presenciou e participou
de obras incríveis que comprovavam que Jesus era o Filho de Deus.
Porém, mesmo diante de
tudo isso, ainda assim Judas Iscariotes partiu rumo a sua própria destruição.
Já os outros discípulos também tiveram o mesmo contato intimo com o Senhor.
Eles escutaram as mesmas palavras, receberam os mesmos ensinos e presenciaram e
participaram dos mesmos milagres.
Aparentemente
não havia diferença alguma entre o traidor Judas Iscariotes e os onze
restantes. Qualquer um visse Judas na noite em que ele saiu para trair o
Senhor, facilmente diria: Eis aí um dos discípulos mais próximos daquele Jesus
de Nazaré. Isso significa que aparentemente tanto Judas quanto os demais
discípulos, eram ramos que estavam na Videira verdadeira.
Mas o Mestre sabia
exatamente a diferença que existia entre esses dois tipos de ramos. Enquanto um
possuía um relacionamento íntimo e verdadeiro com Ele, o outro possuía apenas
um relacionamento externo e superficial. Estava na Videira verdadeira, mas não
era frutífero.
Com base nesse
contexto, as palavras de Jesus simplesmente se encaixam na advertência acerca
do perigo em seguir o exemplo de Judas. Suas palavras trazem a importante
admoestação sobre a necessidade de permanecer nele. Somente estando na Videira
verdadeira é que um ramo pode produzir os frutos de obediência.
Qual
o significado da alegoria da Videira e os Ramos?
O grande significado da
alegoria da Videira e os Ramos é a verdade de que somente quem permanece em
Cristo poderá dar frutos. Essa verdade também implica na condição de que é
impossível um ramo estar na Videira verdadeira e ser definitivamente
improdutivo, pois o Pai, como um agricultor, dispensa os cuidados necessários
para que os ramos produzam.
A
alegoria da Videira e os Ramos demonstra tanto a responsabilidade humana quanto
a soberania de Deus. A responsabilidade humana pode ser vista claramente nas
palavras: “Aquele que permanece em mim”. Por
outro lado, no mesmo versículo, a soberania de Deus também é claramente
expressa: “Porque sem mim nada podem fazer” (João
15:5).
Esse “nada” significa a
incapacidade humana em fazer qualquer bem em relação a Deus. O homem
definitivamente não pode contribuir para sua própria salvação. Isso significa
que esse “nada” inclui não só a produção de frutos, mas o próprio ato de
permanecer na Videira verdadeira.
Aqui qualquer ideia de
auto-gratificação ou salvação por obras cai por terra. Se produzimos frutos é
porque estamos na Videira verdadeira. Se estamos na Videira verdadeira é porque
produzimos frutos segundo o bom cuidado do grande Agricultor. Esse Agricultor
nos poda a cada dia para que possamos produzir mais e mais frutos.
Assim, não existem
cristãos verdadeiros que não dão frutos. A frutificação distingue de forma
definitiva e infalível quem está genuinamente em Cristo. Todos são ramos, e,
aparentemente, todos parecem estar na mesma Videira. Porém, o Pai sabe quem
precisa ser podado e quem precisa ser cortado. Ele nunca cortará um ramo
produtivo, como também nunca deixará passar um ramo que não produz. Assim como
a produção de mais frutos é o fim inevitável para o ramo produtivo, ser cortado
e lançado no fogo também é o fim inevitável para o ramo improdutivo.
Que
fruto é produzido pelos ramos da Videira verdadeira?
Os
intérpretes discutem sobre que tipo de fruto os ramos produtivos da Videira
verdadeira produzem. Alguns identificam esse fruto com o resultado da evangelização. No entanto, tal fruto
não se resumem apenas à própria evangelização, antes, também a inclui.
Com
base no contexto do próprio capítulo 15, percebemos que a analogia dos frutos
está designando o fruto moral. Esse fruto é a consequência natural da
obediência à Palavra de Deus expressa no caráter cristão daqueles que foram
regenerados pelo Espírito Santo. Isso implica em todo
um novo modo de vida. É justamente por isso que os ramos produtivos são somente
aqueles que nasceram de novo.
Outra coisa
interessante é que em nenhum lugar da ilustração da Videira verdadeira somos
informados de que os ramos improdutivos um dia já produziram e pararam de
produzir. A ilustração começa e termina com ramos infrutíferos e ramos
frutíferos, apenas isto.
Quando
relacionamos esse ensino de Jesus com o capítulo 5 da carta de Paulo aos Gálatas, onde lemos
sobre as obras da carne e
o fruto do Espírito, entendemos o porquê
disso tudo. O apóstolo Paulo claramente nos
alerta para o fato de que é somente pela ação e capacitação do Espírito Santo
que podemos demonstrar as virtudes que nos levam a uma vida que agrada a Deus.
Sem o novo nascimento o homem não passa
de um ramo sem vida que é cortado e lançado no fogo.
A
Videira verdadeira, os ramos e a soberania de Deus
Esse
conceito também nos ajuda a entender a sentença do versículo 10: “Se guardarem meus preceitos, permanecerão em meu amor”.
Mais uma vez o foco aqui não está em nossa capacidade em guardar os preceitos
divinos, mas no resultado da graça soberana de Deus.
Se nós guardamos os
preceitos de Cristo é porque nós o amamos (João 14:15), e se nós o amamos é
porque Ele nos amou primeiro (1 João 4:19). A ação soberana de Deus sempre
precederá a nossa ação, seu amor sempre precederá o nosso amor. Sua iniciativa
sempre precederá nossa resposta.
Assim, qualquer coisa
de bom que possamos fazer aos olhos de Deus, na verdade será simplesmente uma
resposta de gratidão. Se produzirmos mais e mais frutos, a glória sempre será
toda d’Ele (João 15:8). Sobre isso, o próprio Jesus mais a frente declara:
Não me escolhestes vós
a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o
vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele
vo-lo conceda (João 15:16).
Diferentemente do que
alguns alegam, essas palavras definitivamente não se resumem apenas ao grupo dos
discípulos que cercavam Jesus naquela noite. Essas palavras se estendem a todos
os seus discípulos genuínos ao longo dos tempos. Para glória de Deus Pai, esses
discípulos são ramos frutíferos que produzem mais e mais frutos por estarem na
Videira verdadeira.